O SUICIDA É, ANTES DE TUDO, UM SOLITÁRIO. DESCOBRIR UM
MEIO DE CHEGARMOS À CRIATURA SOLITÁRIA PODE SER UM ÚTIL E BENÉVOLO EXERCíCIO DE
CARIDADE EM FAVOR DO PRÓXIMO
Falar sobre os suicidas nos dá o ensejo
de pensarmos no trabalho de renovação espiritual que está ao alcance e na
obrigação de todos nós.
Acredito que todos devemos ajudar ao próximo,
principalmente quando vemos nosso irmão se aproximar de uma situação
desgastante, desigual e potencialmente suicida. É nossa obrigação! Embora não
devamos ser inconvenientes, nem por isso devemos deixar de falar todas as vezes
que vejamos a dor do próximo.
O suicida é, antes de tudo, um solitário. Descobrir um
meio de chegarmos à criatura solitária pode ser um útil e benévolo exercício de
caridade em favor do próximo. Utilizemos os recursos ao alcance de nossas mãos
para auxiliar o suicida ou ao potencialmente suicida, pois isto será uma boa
atitude e, certamente, nossos guias espirituais nos ajudarão. Quanto ao
suicídio propriamente dito, lutemos contra todas as formas de depressão, fuga e
falta de fé.
O suicida deve ser considerado como um corajoso ou um
covarde? Por quê?
Altivo Pamphiro - Todos os espíritos de bem informam
que o suicida é, antes de tudo, um egoísta, que pensa somente em suas dores,
ignorando as dores que irá causar em seus entes queridos. Não se pode
generalizar e chamá-los de corajosos ou covardes, porque, na realidade, antes
de tudo, eles estão preocupados com suas próprias idéias. Há, entretanto, os
casos de loucura, nos quais o suicida, em um estado de demência, não pode
avaliar o crime que está cometendo. É atribuído ao espírito Emmanuel a
informação de que Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil, ao se matar, não foi
considerado como um suicida, uma vez que evitou uma guerra civil com sua morte.
Desse modo, vemos que a Lei de Deu prevê considerações que nem sempre estão ao
nosso alcance.
Quais os fatores espirituais que podem levar uma
pessoa a desejar não mais viver?
Altivo Pamphiro - Principalmente a sociedade. O
espírito, quando não tem mais motivo para lutar, pode se desesperar e entrar em
uma depressão que o leva a pensar no suicídio. Há cerca de dez anos, na Suécia,
houve uma pesquisa entre médicos e paramédicos sobre se algum deles teve o
desejo de se suicidar algum dia. A informação, impressionante aliás, foi de que
todos os médicos e paramédicos que habitualmente se dirigiam para os países
pobres, oferecendo seus serviços durante as férias, jamais pensavam em
suicídio. Vê-se que o trabalho é realmente um grande antídoto para a atitude
suicida.
Para onde vão realmente os espíritos dos suicidas? Há
alguma regra geral para quem comete este ato ou os motivos que o levaram a
cometê-lo podem amenizar essa pena, se assim podemos chamar?
Altivo Pamphiro - A médium Yvonne Pereira, em seu
portentoso livro Memórias de um Suicida, fala do "Vale dos Suicidas".
Entretanto, temos notícia de outros suicidas que não foram para o referido vale
porque não constituíam um perigo para os encarnados. Segundo a médium, vão para
o "Vale dos Suicidas" aqueles espíritos capazes de influenciar os
encarnados. Eles, então, são segregados para não terem como influir nos homens.
Em média, quanto tempo o espírito de um suicida fica
vagando pelas regiões umbralinas?
Altivo Pamphiro - Não há previsão para esse tempo.
Dizem os espíritos condutores que o espírito fica vagando enquanto não consegue
harmonizar sua mente e entender o apoio que está sendo dado a ele. Portanto,
isso varia de espírito para espírito.
Será que todos nós, em alguns instantes, não somos
suicidas, se assim podemos definir tal nomenclatura, quando estamos em algum
estado "negativo", como chateados, deprimidos, aflitos, inseguros,
envergonhaados, irados etc., e agimos contra a lei?
Altivo Pamphiro- Digamos que o suicida é aquele que,
além de não conseguir superar esses estados mórbidos, procura fugir das
realidades do mundo em que vive. Podemos também, como você está falando, ser
considerados como suicidas potenciais todas as vezes que entramos nesse estado
de morbidez psíquica. De alguma forma, somos suicidas quando desgastamos
desnecessariamente o corpo ou desistimos de viver.
Quando algumas religiões levam seus seguidores a
suicídios coletivos, quem possuirá maior dosagem de culpa? Se alguém for
obrigado a se matar, como ter que se jogar de um lugar, por exemplo, ele é
culpado?
Altivo Pamphiro - Quando os seguidores de uma religião
se suicidam, eles não têm culpa pelo ato, mas sim por terem se deixado
envolver pelas ordens absurdas que lhes foram dadas. A culpa do suicídio
propriamente dito caberá aos seus diretores, que os induziram. Quanto aos que
são obrigados a se matar, estes não se suicidam, são assassinados.
Mas ao afirmar que seguidores de determinadas
religiões ou seitas, quando se suicidam, não têm culpa, não se está tirando
deles o livre-arbítrio em detrimento da fé cega?
Altivo Pamphiro - Quando pessoas abdicam de pensar e
se deixam conduzir pela determinação de outros, eles realmente estão errados,
mas devemos levar em conta aqueles que não são capazes de discernir. Nesse
caso, o livre-arbítrio deles está realmente prejudicado.
Grandes personagens bíblicos possuiam tanto amor pelo
povo que colocaram sua própria vida à disposição em troca da libertação dos
outros. Esse sentimento "suicida" é antes uma virtude e não um erro,
certo? Como disse Martin Luther King, "aquele que não possui uma causa
pela qual se disponha a morrer por ela, este não merece a vida que
possui". Qual a sua opinião sobre esse tipo de "intenção
suicida"?
Altivo Pamphiro - Nenhum desses grandes líderes, na
verdade, tinha essa "intenção suicida". Eles tinham a coragem da fé,
que poderia chegar até o fato de saberem que correriam risco de vida todas as
vezes que falassem suas verdades. Os líderes religiosos enfrentam principalmente
a desordem moral e aqueles que se comprazem nela. Luther King enfrentou toda
uma classe social em defesa dos negros. Estes homens, poderosos em si mesmos,
sabiam que agrediriam ao status gente e, com toda certeza, a sociedade agredida
responderia com sua linguagem de violência. Tenho certeza de que estes homens,
ao enfrentarem esta sociedade, sabiam que a resposta que elas dariam seria a
violência. Por isso digo que, na verdade, eles tinham a coragem da fé.
Se uma pessoa bebe e é atropelada ou bate o carro, ela
cometeu um suicídio? Quanto ao suicídio lento por desgaste desnecessário do
próprio corpo, há diferenças entre os que o fazem com álcool, drogas,
fumo, comidas excessivamente gordurosas ou mesmo com um simples
refrigerante?
Altivo Pamphiro - O fato das pessoas ignorarem que o
álcool e o tabaco podem levar à morte não as eximem do sofrimento oriundo
desses agentes químicos. O suicídio, nesse caso, seria indireto, mas nem por
isso deixa de ser um desgaste desnecessário e inoportuno, que cedo ou tarde
causará um sofrimento para os que abusarem assim de seu corpo. Tudo na vida
depende da intenção. Se você também usa o excesso de gordura pensando que isso
não lhe fará mal, você estará menos comprometido, mas nem por isso deixará de
sofrer os efeitos de seus atos. Quanto ao que sofre um desastre e morre em
conseqüência da bebida ou do tóxico, ele sofrerá por ver que cortou o fio de
sua vida antes da hora. Não será um suicida clássico, mas sim um suicida
indireto, que certamente terá de dar contas deste seu ato.
E no caso de pessoas que participam de esportes
perigosos e acabam por desencarnar, como foi o caso de Ayrton Senna, seria
suicídio? Que culpa tem quem participa de esportes como alpinismo,
paraquedismo, automobilismo etc.?
Altivo Pamphiro - Os espíritos que têm conhecimennto
das limitações a que estão sujeitos e, mesmo assim, obrigam seu corpo a
participar dessas atividades são chamados de suicidas em potencial. Quando
ocorre a desencarnação de um deles, o espírito será punido pelo fato de
conscientemente agir contra a segurança de seu corpo.
Que tipo de culpa teria alguém que se matasse por não
ter seu amor correspondido? E aquela que não lhe correspondia?
Altivo Pamphiro - Quem se mata por amor, segundo a
médium Yvonne Pereira, tem em seu benefício o sentimento com que agiu. Não foi
uma fuga propriamente dita, mas sim uma falta de resistência moral. A pessoa
que não correspondeu ao amor nada tem a ver com a morte do outro se não
estimulou um amor que jamais seria correspondido. Muitos suicídios
poderiam ser evitados se tivéssemos o evangelho do Cristo mais presente nas
famílias
Diante dos problemas de nossa sociedade contemporânea,
o que dizer especificamente a respeito de suicídio para os jovens usuários de
drogas?
Altivo Pamphiro - Estes antecipam suas partidas para o
mundo dos espíritos e as informações que se recebe acerca do estado deles são
as mais tristes possíveis. Na verdade, são suicidas.
Hoje em dia, ter relações sexuais sem o uso de
preservativos pode ser considerado como atitude potencialmente suicida?
Altivo Pamphiro - Pode sim, caso se busque um parceiro
ou parceira e você veja nele apenas o prazer, sem se dar conta dos prejuízos
que podem acarretar tal relação.
Pode se fazer alguma coisa para auxiliar os suicidas
ou a eles não se pode ajudar de forma alguma? Haverá alguma esperança para os
espíritos suicidas e seus familiares?
Altivo Pamphiro - Sabemos que a prece é de grande
auxílio para os suicidas, pois quando oramos por alguém, usamos nossa boa
vontade, nosso sentimento de compreensão para com o próximo. Todas as vezes que
pensarmos com tranqüilidade em favor de uma pessoa, estaremos sugerindo que
alguém pensa nela com carinho, com estímulo e boa vontade. Outra forma de
auxiliar é vibrar para que ela se encontre, sugerindo pensamentos de estímulo e
de paz.
Altivo Pamphiro - Revista Cristã de Espiritismo
Altivo Pamphiro - Revista Cristã de Espiritismo
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