A
prática espiritual, quando empregada em conjunto com padrões médicos
convencionais, pode ser um tratamento eficaz para a deficiência mental. É o que
concluiu o médico Frederico Leão em sua dissertação de mestrado defendida no
Instituto de Psiquiatria (IPq), da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). O
pesquisador analisou os casos de 650 pacientes internados nas Casas André Luiz,
onde trabalha como psiquiatra, e verificou que aqueles que foram submetidos a
determinadas sessões espirituais obtiveram melhoras significativas.
O
médico utilizou a metodologia científica (estatística e escala psiquiátrica de
avaliação) para analisar o efeito das chamadas "sessões mediúnicas".
Segundo a crença espírita, o médium é capaz de incorporar a mente do deficiente
mental e intermediar a comunicação entre o paciente e o grupo presente no
encontro.
Num
primeiro momento, Leão avaliou o estado de saúde dos pacientes que compuseram
sua amostra e, seis meses depois, fez novas avaliações. "Embora todos os
pacientes tenham obtido melhoras, o grupo dos vinte que participaram das
sessões mediúnicas (que se comunicaram pelo médium) teve avanços ainda mais
significativos do que aqueles que receberam outros tipos de tratamento
espiritual", informa o pesquisador.
A
maior parte dos pacientes observados sofrem de deficiências "graves e
profundas", como define Leão. Há muitos casos de paralisia cerebral e
cerca de metade deles é acamada. As idades variam de 4 a 50 anos, e a maioria
são adultos jovens.
Critérios
Como
método de avaliação dos pacientes, o pesquisador utilizou a Escala de
Observação de Pacientes Psiquiátricos Internados (EOPPI), que considera fatores
como desempenho motor, comunicação verbal, dificuldade em se realizar tarefas
cotidianas e a ocorrência de sintomas de delírio. "Estatisticamente, os
vinte participantes das sessões mediúnicas obtiveram melhoras consideráveis,
que estão fora do campo do acaso", conta Leão.
Como
os pacientes não sabiam de sua participação nessas sessões, aponta o
pesquisador, deve ser excluído o efeito placebo (efeito psicológico de melhora
ocasionado pelo simples conhecimento de que se está recebendo um determinado
tratamento). Era preciso observar a incorporação do médium e somente então
identificar o paciente que supostamente se expressava. Os que acreditam nessa
possibilidade de comunicação apostam que, ao falar de suas angústias e
problemas, os pacientes obtêm benefícios psicoterápicos.
Hipóteses
e objetivos
Para
explicar os efeitos do tratamento espiritual, Leão levanta a hipótese de que as
melhoras correspondem às práticas da instituição, embora ela não explique a
maior eficiência terapêutica das sessões mediúnicas. O fato de os funcionários,
devido à sua formação religiosa, tratarem os pacientes com maior atenção e
humanismo, por exemplo, pode ser um dos fatores que auxiliam no tratamento.
Reforça essa hipótese a constatação de que todos os pacientes submetidos a
qualquer prática espiritual tiveram melhoras em seu quadro clínico quando
comparados àqueles que receberam apenas o tratamento convencional.
O
médico destaca que o principal objetivo de seu trabalho é incentivar novos
estudos na área. "A expectativa é estimular análises mais detalhadas, que
considerem um período maior de observação e trabalhem também com instituições
não-religiosas", afirma.
Frederico Leão
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